⚖️ Avatares de Inteligência Artificial no Judiciário: O Caso Pelkey e os Limites da Realidade Simulada

“Nem tudo que parece real é, de fato, verdadeiro.”
Em um episódio inédito e altamente simbólico, o tribunal do Arizona (EUA) foi palco de um experimento que reuniu emoção, tecnologia e questionamentos éticos. Durante a audiência de sentença de Gabriel Paul Horcasitas — condenado por homicídio culposo em um caso de fúria no trânsito — foi exibido um vídeo gerado por inteligência artificial (IA), no qual a vítima, Christopher Pelkey, um veterano do Exército dos EUA, “retorna” virtualmente para se dirigir ao seu assassino.
O avatar de Pelkey, recriado com base em registros de voz, fotos e vídeos, foi utilizado para transmitir uma mensagem escrita por sua irmã, Stacey Wales. Com aparência realista e voz semelhante à do falecido, a IA reproduziu uma fala de perdão e empatia:
“É uma pena que nos encontremos nessas circunstâncias. Em outra vida, poderíamos ter sido amigos. Acredito no perdão e em um Deus que perdoa. Sempre acreditei e ainda acredito.”
Visivelmente comovido, o juiz Todd Lang elogiou a iniciativa e aplicou uma pena de 10 anos e meio — um ano acima do solicitado pela promotoria. O vídeo, no entanto, foi usado exclusivamente durante a fase de sentença, sem interferir na fase probatória.
Fontes:
Avatares de IA: Potenciais e Riscos
Apesar do uso inovador, o episódio acende um alerta sobre os limites éticos e jurídicos do uso de avatares de IA no sistema de justiça. O realismo de tais tecnologias pode induzir percepções equivocadas, criar vínculos emocionais artificiais ou, em cenários extremos, manipular julgadores e a opinião pública.
Entre os principais riscos identificados:
- Falsa autenticidade: A impressão de que a fala expressa a vontade real da pessoa falecida;
- Manipulação emocional: O conteúdo impactante pode influenciar desproporcionalmente decisões judiciais;
- Simulação de eventos inexistentes: A IA pode criar situações com aparência real, mas totalmente fabricadas.
Letramento Digital: Pilar para o Uso Consciente da Tecnologia
Este caso reforça a necessidade urgente de promover letramento digital no ecossistema jurídico. Trata-se da capacidade de compreender, interpretar e contextualizar conteúdos digitais — especialmente os gerados por inteligência artificial.
O letramento digital permite:
- Entender como IAs generativas funcionam (dados, algoritmos e limites);
- Identificar manipulações visuais e narrativas;
- Avaliar criticamente conteúdos simulados ou automatizados.
Em tempos de “realidades digitais plausíveis”, apenas uma sociedade digitalmente letrada poderá distinguir entre emoção legítima e encenação algorítmica.
✅ Considerações Finais
O uso de avatares de IA no Judiciário representa um avanço simbólico importante, com potencial para humanizar processos e oferecer novas formas de expressão. No entanto, seu uso deve ser sempre guiado por critérios éticos, legais e técnicos, com atenção ao seu poder de influência e ao respeito à integridade da justiça.
A tecnologia pode ser uma aliada — desde que usada com responsabilidade, senso crítico e, sobretudo, conhecimento.



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